31 dezembro 2010

Feliz 2011!

Este é o último dia do ano...
Deixo-vos este poema de Mário Quintana para se despedirem de 2010...

in: http://www.mariliapirillo.com/2010/12/feliz-2011.html


... e um poema de Miguel Torga e outro de Carlos Drummond de Andrade  para darem as boas-vindas ao novo ano com a magia da poesia!


Sísifo

Recomeça….
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…


Miguel Torga, Diário XIII




Receita de Ano Novo

                    Para você ganhar belíssimo Ano Novo
                    cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
                    Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
                    (mal vivido talvez ou sem sentido)
                    para você ganhar um ano
                    não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
                    mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
                    novo
                    até no coração das coisas menos percebidas
                    (a começar pelo seu interior)
                    novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
                    mas com ele se come, se passeia,
                    se ama, se compreende, se trabalha,
                    você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
                    não precisa expedir nem receber mensagens
                    (planta recebe mensagens?
                    passa telegramas?)
                    Não precisa
                    fazer lista de boas intenções
                    para arquivá-las na gaveta.
                    Não precisa chorar arrependido
                    pelas besteiras consumidas
                    nem parvamente acreditar
                    que por decreto de esperança
                    a partir de janeiro as coisas mudem
                    e seja tudo claridade, recompensa,
                    justiça entre os homens e as nações,
                    liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
                    direitos respeitados, começando
                    pelo direito augusto de viver.
                    Para ganhar um Ano Novo
                    que mereça este nome,
                    você, meu caro, tem de merecê-lo,
                    tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
                    mas tente, experimente, consciente.
                    É dentro de você que o Ano Novo
                    cochila e espera desde sempre.


Carlos Drummond de Andrade



A Piscateca deseja a todos um FELIZ ANO NOVO!

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